O parto do território das Alagoas em 1817
No panteão de datas cívicas no estado de Alagoas se encontra o 16 de setembro, pois nesse dia, anualmente, desde 1817, é comemorada a emancipação política do estado de Alagoas. É feriado no estado e poucas são as pessoas que possuem, em decorrência da falta de criticidade dos fenômenos históricos, a consciência de como Alagoas surgiu.
A região Nordeste brasileira, desde os tempos de Zumbi, foi considerada uma área de difícil dominação do governo português. Foram vários os movimentos de luta em seu território, com destaque para o Quilombo dos Palmares, um dos mais expressivos, em termos de estrutura e consequências.
Um outro fundamental foi o que denomino Movimento Cabano, que para nós leopoldinenses deve ser entendido como estimulador da nossa origem enquanto sociedade jurídica e politicamente organizada.
Mas retornando a emancipação de Alagoas, precisamos compreender que ela não se deu da noite para o dia. O território de Alagoas, antes de 1817, pertencia a Capitania de Pernambuco. Esse território, regido pela economia da cana de açúcar, era dominado por uma elite que sempre foi fiel aos interesses de Portugal.
Em março de 1817, a classe dominante de Pernambuco, insatisfeita com a política econômica e tributária imposta por Portugal, promoveu a Revolução Pernambucana, chegando ao poder por alguns dias. Movida pelo desejo de separar Pernambuco do restante do Brasil e de Portugal, tal revolução foi o estopim para mudanças estruturais na região.
Cabe ressaltar que a maioria da elite do sul do território de Pernambuco esteve ao lado do governo português. Assim, visando desarticular futuros movimentos rebeldes e ao mesmo tempo agraciar aquela elite fiel, resolveu D. João VI dividir o território pernambucano, surgindo, assim, a Capitania das Alagoas.
Alagoas nasce nesse contexto. Alagoas surge como um presente. Aparece na história na condição de território loteado para uma elite econômica da cana de açúcar no litoral e zona da mata e mais tarde da agropecuária no sertão.
A emancipação política de Alagoas não representou um espírito de libertação, mas simplesmente a manutenção de um poder político que se arrasta desde a época colonial. Não é sem sentido que ainda hoje o seu território é loteado entre famílias tradicionais que dominam a sua política e a sua estrutura econômica.
E essa lógica se exprime também nos municípios. São estruturas, perpetuações do mando, no dizer de Fernand Braudel.
O que sempre importou foi perpetuar a realidade do poder político, e os baixos índices sociais que sempre assolaram o estado são expressões dessa realidade. E é essa a nossa realidade e enquanto estrutura ainda demorará muito.
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