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Papinazo e o Natal

O dia é 24 de dezembro. Coisa interessante é que a véspera de Natal é mais animada do que o próprio dia. Para o catolicismo é o dia em que Jesus Cristo nasceu. O dia é 25 de dezembro.

Papinazo acordou logo cedo, afinal é um dia de festividade. As famílias nos grupos virtuais amanhecem desejando um Feliz Natal, sendo mesmo assim um obstáculo àquele sobrinho ou àquela prima restabelecer as relações familiares.

Na realidade, estão no grupo de WhatsApp por estarem. Aliás, este espaço é um dos mais inorgânicos que há.

E Papinazo não é diferente. Ele desejou um Feliz Natal pra um monte de gente a ponto do celular travar por conta de tantos envios.

Ao sair na área de casa Papinazo se depara com uma cobrança de luz. Era já a segunda cobrança daquela conta, sendo que já era a quarta conta em débito.

Entretanto, Papinazo poderia até não pagar as contas, mas deixar de comprar a roupa de final de ano isso não poderia deixar de ocorrer.

Às 10h ele foi dar um trato na cabeleira. Papinazo às vezes passava 3, 4 meses sem cortar ele. ‘Ficava uma moita’, os amigos comentavam. Mas Papinazo não ligava para essas convenções sociais que enjaulam a pessoa.

— O Natal é mais uma festa burguesa e de controle social — dizia.

Após cortar o cabelo e refazer a geometria da barba, Papinazo se arrumou e foi para a casa da Tia Jodelda. O almoço seria lá.

A Tia Jodelda é uma quarentona enxuta. Adepta de exercícios físicos e comidas balanceadas, ela dizia que o seu sonho sempre foi participar do concurso da mulher mais sarada da cidade, coisa que nunca aconteceu.

Em época festiva a celebração ocorria sempre em sua casa. E naquele Natal não foi diferente. A mesa estava posta; os tios Armando e Brito estavam na sala jogando um dominó e os primos de Papinazo conversavam sobre a posse do presidente eleito.

— O Brasil vai se lascar ainda mais — afirmou o primo Celestonildo.

— Que nada rapaz. Agora o Brasil vai pra frente — retrucou outro.

A hora ia passando e com ela a fome dos convivas. Lá pelas onze e meia, a Tia Jodelda chamou para todos sentarem à mesa. Chegara o grande momento!

No meio da mesa se achava um amontoado de folhas verdes, vermelhas e amarelas. Dispostas numa tigela, aquilo não agradou Papinazo.

— Isto aqui não é comida não, mas uma tentativa de jejum coletivo — disse.

— E o que você esperava comer? — perguntou a Tia Jodelda.

— É Natal e é um tempo de fingimento. Todos fingem se importar com o restante da família e com os amigos. São tantas felicitações que se ganhássemos um centavo por cada uma ficaríamos ricos. Ora, que o Natal seja um fingimento tudo bem, mas agora fingir que se come aí é demais titia.

Tia Jodelda ficou calada e prosseguiu pondo em seu prato as folhas que preparara, enquanto os primos de Papinazo recuaram em comê-las.

*Conto da Série “Os dramas de Papinazo”, publicado, originalmente, em 24 de dezembro de 2018.

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